Outra caricatura bem antiga. Nessa época eu fazia algumas brincadeiras com ilusões visuais (o saci se confunde com a perna do Monteiro Lobato, a fumaça do cigarro se confunde com o rosto, etc). Experimentei colocar vários personagens na ilustração e refiz o trabalho dezenas de vezes, no período de um ano e meio. Embora pareça simples, esta caricatura foi o resultado de um longo processo.
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
sábado, 1 de outubro de 2011
Os quadrinhos que o governo dos EUA queria proibir
Acusadas de incentivar a delinqüência juvenil, as histórias em quadrinhos de horror foram banidas das bancas norte-americanas em meados do século passado. No início dos anos 1950, movimentos populares já tinham conseguido proibir a venda de quadrinhos violentos em algumas cidades, como Oklahoma e Houston. Esses movimentos ganharam mais força e popularidade após a publicação, em 1954, do livro “Seduction of the Innocent”, escrito pelo psiquiatra Frederic Wertham, que afirmava ter constatado que a leitura de quadrinhos estimulava o comportamento violento.
A pressão aumentou quando, ainda em 1954, o Subcomitê de Investigação da Delinqüência Juvenil do Senado dos EUA realizou uma série de audiências com o objetivo de provar a influência negativa que as HQs exerciam sobre os jovens leitores. As audiências foram transmitidas pela TV e vários políticos espertalhões se aproveitaram da situação para aparecer em rede nacional fazendo ridículos discursos moralizantes. Para evitar algum tipo de punição por parte do governo, as editoras criaram o Comics Code Authority, uma forma de autocensura que praticamente proibia cenas de violência e erotismo nos quadrinhos.
O livro “The Horror! The Horror! Comic Books the Government Didn´t Want You to Read”, do escritor e editor Jim Trombetta, é uma coletânea que investiga os quadrinhos que atormentaram os EUA no início dos anos 1950. Trombetta selecionou e comentou 16 histórias completas e mais de 100 capas de gibis da época. A primeira parte do livro mostra como os quadrinhos de horror foram uma evolução dos quadrinhos de crime e gangster publicados desde os anos 1930. Dois ótimos capítulos abordam a criação do Comics Code e a desastrada participação de William Gaines, proprietário e editor da lendária editora EC Comics, nas audiências do Subcomitê de Investigação da Delinqüência Juvenil do Senado. Na segunda parte da coletânea, Trombetta analisa cada subgênero das HQs de horror (lobisomens, vampiros, zumbis, etc). Embora suas opiniões sejam sempre interessantes, algumas são questionáveis e deverão provocar polêmica. No capítulo “The Tale of the Head”, por exemplo, Trombetta associa os quadrinhos em que aparecem cenas de decapitação, comuns no período pós Segunda Guerra Mundial, a um suposto costume dos soldados norte-americanos: as cabeças de alguns combatentes japoneses mortos eram cortadas, e os crânios enviados para os EUA como troféus de guerra. Segundo o autor, os soldados japoneses tinham um costume semelhante.
As HQs escolhidas para ilustrar cada capítulo são uma boa amostra de como eram as narrativas de horror daquela época. Embora as cenas desses gibis pareçam inofensivas nos dias de hoje, durante os anos 1940 e 1950 nenhuma outra mídia veiculava imagens tão violentas; nem mesmo o cinema, que já possuía seu próprio código de autocensura desde os anos 1930.
Editores, roteiristas e desenhistas se esforçavam para mostrar seus personagens sendo mortos das mais diferentes e arrepiantes maneiras. Cabeças e membros decepados eram mostrados com detalhes sangrentos, assim como pessoas torturadas, enterradas vivas e afogadas. Mas por mais apelativas que fossem as cenas vistas nessas revistas, os roteiros eram sempre moralistas e nada do que era publicado poderia ser visto como elogio da criminalidade.
“The Horror! The Horror!” reúne trabalhos obscuros e interessantes de alguns grandes artistas como Steve Ditko, Johnny Craig e Basil Wolverton. Ditko, que anos depois ajudaria a criar o Homem-Aranha, desenhava de modo meio grotesco e retorcido. Craig possuía um traço realista, preciso, que seria muito imitado. A arte de Wolverton era inconfundível, inundando cada milímetro dos quadrinhos com diferentes texturas, deixando suas ilustrações com certa aparência de gravuras antigas. O livro também traz trabalhos de artistas menos talentosos, mas que são interessantes pelo seu valor histórico. A ingenuidade dos enredos algumas vezes era compensada pela imaginação quase delirante dos roteiristas, em histórias sobre pessoas que derretiam, alienígenas parasitas e vermes gigantes que dominavam a Terra.
O ponto fraco da coletânea é não trazer nenhuma história completa da EC Comics, uma das poucas editoras que tentaram injetar criatividade no gênero, abordando temas polêmicos como racismo, linchamentos patrióticos e corrupção policial. Talvez por ser a mais bem sucedida editora de HQs de crime e horror da época, a EC foi a maior vítima do Comics Code. Todas as suas publicações do gênero foram canceladas antes do final de 1954, recusadas pelos distribuidores que temiam protestos públicos e retaliações legais. Dois anos após a criação do código de autocensura, apenas uma revista da EC podia ser encontrada nas bancas: um novo gibi de humor chamado MAD.
A censura dos quadrinhos de horror obviamente não ajudou a baixar os índices de delinqüência juvenil. Foi apenas uma medida populista e equivocada que iludiu os pais durante algum tempo. Poucos anos depois, imagens muito mais chocantes seriam amplamente divulgadas em revistas e jornais “sérios”, ilustrando matérias sobre guerras como as da Coréia e do Vietnam.
Em 1971 o Comics Code foi reformulado pela primeira vez. Tornou-se gradativamente menos rigoroso, até ser abandonado em 2011 pelas editoras DC e Archie Comics, as únicas que ainda o adotavam.
“The Horror! The Horror!” traz como bônus um DVD com um curioso e obscuro programa de TV de 1955, apresentado por um sujeito canastrão que repete a ladainha de sempre contra os gibis. O clímax do programa é uma precária encenação na qual algumas crianças, após lerem revistas de quadrinhos, torturam um garoto menor. Os pais que assistiram à cena devem ter vasculhado suas casas em busca dos temíveis gibis que transformariam seus filhos em criminosos. Hoje , esses gibis parecem inocentes, ingênuos, até mesmo cômicos. Horrível é constatar que a população de um país pode ser facilmente manipulada por políticos e apresentadores de televisão.
Título: The Horror! The Horror! Comic Books the Government Didn´t Want You to Read
Editor: Jim Trombetta
Editora: Abrams ComicArts
Ano de Edição: 2010
304 páginas
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Charles Burns
Charles Burns é conhecido pelos seus desenhos de alto contraste, inspirados em antigos quadrinhos e filmes de terror e ficção científica. Algumas capas criadas pelo artista para Black Hole vão além, combinando o contraste entre preto e branco com cores fortes, em imagens oníricas, nas quais o terror é apenas sugerido. Black Hole é uma premiada HQ escrita e desenhada por Burns, e originalmente publicada pela Fantagraphics Books entre 1993 e 2004. É mais conhecida pelas edições encadernadas lançadas nos EUA pela Pantheon Books, e no Brasil pela Editora Conrad, que não trazem as capas originais.
domingo, 17 de julho de 2011
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Autores de quadrinhos alternativos em coletânea da Marvel
Strange Tales II é uma coletânea de HQs criadas por autores de quadrinhos alternativos, utilizando heróis e vilões da editora Marvel. São 34 artistas de estilos distintos e com total liberdade para fazer o que quiserem com os personagens da editora.
Dois autores brasileiros participam da coletânea: Rafael Grampá apresenta um Wolverine extremamente violento, mas que se mostra sensível e vulnerável por um instante. A técnica narrativa da HQ é bem eficiente e a qualidade da arte está muito acima do que se costuma ver em quadrinhos de super-heróis. Grampá seria muito bem sucedido trabalhando em qualquer um dos principais títulos da Marvel, mas neste volume talvez esteja um pouco deslocado. Seu estilo é tradicional demais para uma coletânea que se propõe de quadrinhos alternativos ou underground. Eduardo Medeiros, o outro brasileiro em Strange Tales II , também se sai muito bem, com um estilo de desenho simples e divertido.
Gene Yang, autor de O Chinês Americano, apesar de não ter um traço muito original, fez uma das HQs mais divertidas do livro, criando um herói que usa sua incrível falta de habilidade como uma arma para vencer os vilões.
Os irmãos Gilbert e Jaime Hernandez, criadores da revista Love and Rockets, optaram por homenagear as clássicas e ingênuas aventuras dos primórdios da Marvel. Na HQ de Gilbert vemos o Homem de Ferro usando seu primeiro uniforme (aquele que parecia um robô dourando), contracenando com Toro (parceiro do Tocha Humana nos anos 1940) e O Líder (antigo inimigo do Hulk). Os desenhos de Gilbert, mais claros e precisos que de costume, combinados com as cores escolhidas por Jim Campbell, resultam em uma das mais belas artes da coletânea. Jaime, desenhista de traços perfeitos, narra as hilárias trapalhadas de um vilão que tenta a todo custo entrar de penetra em uma festa de super-heroínas.
Tony Millionaire, autor das tiras Maakies, coloca Thor trabalhando como vendedor em uma barraca de parque de diversões. O enredo de sua HQ é absurdo e engraçado, com um tipo de humor que remete mais aos filmes do Monty Python que a uma aventura de super-heróis. Seus desenhos retorcidos parecem querer ocupar cada milímetro dos quadrinhos, e seu uso ostensivo de hachuras faz cada página parecer uma delirante combinação de gravuras antigas com arte pop. Mais uma vez as cores de Jim Campbell complementam a arte com perfeição.
Outros autores, como Dash Shaw, Kate Beaton e Jeffrey Brown participam com histórias interessantes, mas a quantidade de autores inexpressivos e histórias medíocres presentes na coletânea é grande, e acaba baixando consideravelmente a qualidade geral da obra.
Outra característica negativa é o pouco espaço reservado para cada HQ. No volume anterior de Strange Tales foram incluídas duas ótimas histórias escritas por Peter Bagge, cada uma com 24 páginas. Parecia um sinal de que a editora Marvel se arriscaria a investir em obras que fugiam dos clichês das histórias de super-heróis. Nesse aspecto, Strange Tales II é um retrocesso. A maioria das HQs deste novo volume possui entre 2 e 6 páginas, muito pouco para que se desenvolvam idéias mais elaboradas. Os autores devem ter adorado a oportunidade de ganhar algum dinheiro homenageando ou satirizando super heróis, mas o livro está longe de mostrar o potencial dos quadrinhos underground. Proporciona uma leitura divertida, mas bem ligeira, do tipo que não fica muito tempo na memória. Quem quiser ler boas HQs alternativas deve procurar obras mais extensas, como Mundo Fantasma, Love and Rockets New Stories n.3 e Acme Novelty Library 20. Ou buscar nos sebos a ótima coletânea Comic Book, lançada aqui no Brasil pela editora Conrad, nos anos 1990.
No site Comics Alliance podem ser vistos diversos rascunhos e artes originais feitos para Strange Tales II.
Título: Strange Tales II
Editora: Marvel Books
Ano de Edição: 2011
144 páginas
domingo, 5 de junho de 2011
Lady Gaga
Cada vez que aparece, Lady Gaga está usando as roupas mais diferentes e extravagantes. Era impossível prever com que modelito ela estaria causando estardalhaço quando esta ilustração fosse publicada pela revista Monet, então optei por algo minimalista, que apenas insinuasse que ela estava vestida. Dei mais destaque às pernas e aos cabelos sempre brancos e compridos. Na mesma semana em que a revista saiu, ela cortou o cabelo curto e pintou metade de preto. Sacanagem.
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Sticky Fingers, clássico dos Rolling Stones, completou 40 anos
“Sticky Fingers” foi gravado durante a fase mais negra dos Rolling Stones, logo após o falecimento do guitarrista Brian Jones e o desastroso concerto em Altamont, no qual quatro pessoas morreram, uma delas assassinada pelos seguranças do evento. Lançado em 1971, foi o nono álbum de estúdio da banda e o primeiro produzido pelo selo dos próprios Stones, o que lhes garantia maior liberdade criativa. O lançamento provocou polêmica não só pelas citações a drogas que aparecem em várias faixas, mas também pela capa provocativa, concebida por Andy Warhol. Considerada obscena, a foto da capa foi censurada e substituída em alguns países, como a Espanha.
O clima do disco é sombrio, lúgubre. A devastação emocional causada pela vida desregrada, confusões amorosas e consumo exagerado de álcool e drogas é o tema implícito de quase todas as canções. Até a volúpia característica da música dos Stones aqui aparece de forma estranha, mais agressiva que de costume.
A faixa de abertura é “Brown Sugar”, canção de trabalho típica dos Stones, com clima animadinho e um riff de guitarra parecido com dezenas de outros criados por Keith Richards. A letra confusa fala sobre tráfico de escravos e sexo, e está entre as piores já escritas por Mick Jagger, mas a canção possui um refrão grudento e tornou-se o maior hit de “Sticky Fingers”. O disco fica bem mais interessante a partir da terceira faixa, “Wild Horses”, balada de sotaque country, com os violões tocados por Mick Taylor criando uma textura delicada sobre a qual os solos da guitarra de Richards soam tristes e contidos, mas intensamente melódicos. Jagger parece cantar com o coração dilacerado e, para manter o clima depressivo, Charlie Watts toca sua bateria como se mal conseguisse suportar o peso das baquetas.
Como nos dois álbuns anteriores, “Beggars Banquet” e “Let it Bleed”, em “Sticky Fingers” os Stones buscam inspiração principalmente em ritmos tradicionais americanos. “You Gotta Move” é a regravação de um antigo blues, com o violão em primeiro plano tocado com habilidade e sentimento por Richards, e Jagger cantando com uma voz meio caricatural, como se tentasse imitar os velhos cantores do Delta do Mississipi. “I Got the Blues” é uma canção soul ao estilo da tradicional gravadora Stax Records, que tinha entre seus músicos mais famosos o cantor Otis Redding.
“Bitch” abre o lado B (do vinil) com riffs de guitarra marcantes, como os de “Brown Sugar”, mas aqui o clima é mais tenso, a sonoridade é mais despojada e os solos de guitarra e arranjos de metais se encaixam com perfeição. A letra, sobre o esgotamento e a frustração provocados pelo amor é cantada em um tom queixoso e com certa dose de raiva.
“Sister Morphine” é a composição mais sombria deste disco e talvez de toda a carreira dos Stones. A letra escrita por Marianne Faithfull narra a agonia de um viciado em um hospital. A canção começa com alguns acordes tristonhos do violão de Richards, tocados com uma batida seca. Logo entram os vocais, um fiapo de voz de Jagger, que vai crescendo ao longo da música até se tornar um lamento desesperado. Jagger canta sem afetação, sua emoção parece genuína, talvez porque soubesse que aquela pessoa implorando por morfina bem poderia ser ele próprio. Uma slide guitar tocada por Ry Cooder surge ainda na primeira parte da música, mais alta que o violão, com um timbre estranho e escuro. Jack Nitzche também participa da gravação, tocando um piano que soa fantasmagórico. “Sister Morphine” já havia sido lançada em um compacto de Marianne Faithfull em 1969, com alguns dos Stones tocando os instrumentos, mas a versão presente em "Sticky Fingers" é musicalmente superior e bem mais assustadora.
Perto do final do disco o clima fica um pouco mais leve. “Dead Flowers” é um country rock irônico que faz alusão ao uso de heroína e fala de um junkie pobretão que desdenha de uma mulher rica. “Moonlight Mile” encerra o disco de modo inesperado. Começa com uma melodia vagamente oriental tocada no violão por Mick Jagger, enquanto um arranjo de cordas vai se tornando suntuoso e dialoga com os sons delicados de um piano. Jagger fala com cansaço, mas também alívio, sobre voltar pra casa após um dia de trabalho exaustivo. Um final relativamente suave após uma seqüência de canções perturbadoras.
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Capa original do disco. |
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Capa com a qual o disco foi lançado na Espanha. |
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