quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Monteiro Lobato


Outra caricatura bem antiga. Nessa época eu fazia algumas brincadeiras com ilusões visuais (o saci se confunde com a perna do Monteiro Lobato, a fumaça do cigarro se confunde com o rosto, etc). Experimentei colocar vários personagens na ilustração e refiz o trabalho dezenas de vezes, no período de um ano e meio. Embora pareça simples, esta caricatura foi o resultado de um longo processo.

sábado, 1 de outubro de 2011

Os quadrinhos que o governo dos EUA queria proibir



Acusadas de incentivar a delinqüência juvenil, as histórias em quadrinhos de horror foram banidas das bancas norte-americanas em meados do século passado. No início dos anos 1950, movimentos populares já tinham conseguido proibir a venda de quadrinhos violentos em algumas cidades, como Oklahoma e Houston. Esses movimentos ganharam mais força e popularidade após a publicação, em 1954, do livro “Seduction of the Innocent”, escrito pelo psiquiatra Frederic Wertham, que afirmava ter constatado que a leitura de quadrinhos estimulava o comportamento violento.




A pressão aumentou quando, ainda em 1954, o Subcomitê de Investigação da Delinqüência Juvenil do Senado dos EUA realizou uma série de audiências com o objetivo de provar a influência negativa que as HQs exerciam sobre os jovens leitores. As audiências foram transmitidas pela TV e vários políticos espertalhões se aproveitaram da situação para aparecer em rede nacional fazendo ridículos discursos moralizantes. Para evitar algum tipo de punição por parte do governo, as editoras criaram o Comics Code Authority, uma forma de autocensura que praticamente proibia cenas de violência e erotismo nos quadrinhos.

O livro “The Horror! The Horror! Comic Books the Government Didn´t Want You to Read”, do escritor e editor Jim Trombetta, é uma coletânea que investiga os quadrinhos que atormentaram os EUA no início dos anos 1950. Trombetta selecionou e comentou 16 histórias completas e mais de 100 capas de gibis da época. A primeira parte do livro mostra como os quadrinhos de horror foram uma evolução dos quadrinhos de crime e gangster publicados desde os anos 1930. Dois ótimos capítulos abordam a criação do Comics Code e a desastrada participação de William Gaines, proprietário e editor da lendária editora EC Comics, nas audiências do Subcomitê de Investigação da Delinqüência Juvenil do Senado. Na segunda parte da coletânea, Trombetta analisa cada subgênero das HQs de horror (lobisomens, vampiros, zumbis, etc). Embora suas opiniões sejam sempre interessantes, algumas são questionáveis e deverão provocar polêmica. No capítulo “The Tale of the Head”, por exemplo, Trombetta associa os quadrinhos em que aparecem cenas de decapitação, comuns no período pós Segunda Guerra Mundial, a um suposto costume dos soldados norte-americanos: as cabeças de alguns combatentes japoneses mortos eram cortadas, e os crânios enviados para os EUA como troféus de guerra. Segundo o autor, os soldados japoneses tinham um costume semelhante.



As HQs escolhidas para ilustrar cada capítulo são uma boa amostra de como eram as narrativas de horror daquela época. Embora as cenas desses gibis pareçam inofensivas nos dias de hoje, durante os anos 1940 e 1950 nenhuma outra mídia veiculava imagens tão violentas; nem mesmo o cinema, que já possuía seu próprio código de autocensura desde os anos 1930.

Editores, roteiristas e desenhistas se esforçavam para mostrar seus personagens sendo mortos das mais diferentes e arrepiantes maneiras. Cabeças e membros decepados eram mostrados com detalhes sangrentos, assim como pessoas torturadas, enterradas vivas e afogadas. Mas por mais apelativas que fossem as cenas vistas nessas revistas, os roteiros eram sempre moralistas e nada do que era publicado poderia ser visto como elogio da criminalidade.

“The Horror! The Horror!” reúne trabalhos obscuros e interessantes de alguns grandes artistas como Steve Ditko, Johnny Craig e Basil Wolverton. Ditko, que anos depois ajudaria a criar o Homem-Aranha, desenhava de modo meio grotesco e retorcido. Craig possuía um traço realista, preciso, que seria muito imitado. A arte de Wolverton era inconfundível, inundando cada milímetro dos quadrinhos com diferentes texturas, deixando suas ilustrações com certa aparência de gravuras antigas. O livro também traz trabalhos de artistas menos talentosos, mas que são interessantes pelo seu valor histórico. A ingenuidade dos enredos algumas vezes era compensada pela imaginação quase delirante dos roteiristas, em histórias sobre pessoas que derretiam, alienígenas parasitas e vermes gigantes que dominavam a Terra.




O ponto fraco da coletânea é não trazer nenhuma história completa da EC Comics, uma das poucas editoras que tentaram injetar criatividade no gênero, abordando temas polêmicos como racismo, linchamentos patrióticos e corrupção policial. Talvez por ser a mais bem sucedida editora de HQs de crime e horror da época, a EC foi a maior vítima do Comics Code. Todas as suas publicações do gênero foram canceladas antes do final de 1954, recusadas pelos distribuidores que temiam protestos públicos e retaliações legais. Dois anos após a criação do código de autocensura, apenas uma revista da EC podia ser encontrada nas bancas: um novo gibi de humor chamado MAD.

A censura dos quadrinhos de horror obviamente não ajudou a baixar os índices de delinqüência juvenil. Foi apenas uma medida populista e equivocada que iludiu os pais durante algum tempo. Poucos anos depois, imagens muito mais chocantes seriam amplamente divulgadas em revistas e jornais “sérios”, ilustrando matérias sobre guerras como as da Coréia e do Vietnam.

Em 1971 o Comics Code foi reformulado pela primeira vez. Tornou-se gradativamente menos rigoroso, até ser abandonado em 2011 pelas editoras DC e Archie Comics, as únicas que ainda o adotavam.

“The Horror! The Horror!” traz como bônus um DVD com um curioso e obscuro programa de TV de 1955, apresentado por um sujeito canastrão que repete a ladainha de sempre contra os gibis. O clímax do programa é uma precária encenação na qual algumas crianças, após lerem revistas de quadrinhos, torturam um garoto menor. Os pais que assistiram à cena devem ter vasculhado suas casas em busca dos temíveis gibis que transformariam seus filhos em criminosos. Hoje, esses gibis parecem inocentes, ingênuos, até mesmo cômicos. Horrível é constatar que a população de um país pode ser facilmente manipulada por políticos e apresentadores de televisão.

Título: The Horror! The Horror! Comic Books the Government Didn´t Want You to Read

Editor: Jim Trombetta

Editora: Abrams ComicArts
Ano de Edição: 2010
304 páginas

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Charles Burns



Charles Burns é conhecido pelos seus desenhos de alto contraste, inspirados em antigos quadrinhos e filmes de terror e ficção científica. Algumas capas criadas pelo artista para Black Hole vão além, combinando o contraste entre preto e branco com cores fortes, em imagens oníricas, nas quais o terror é apenas sugerido. Black Hole é uma premiada HQ escrita e desenhada por Burns, e originalmente publicada pela Fantagraphics Books entre 1993 e 2004. É mais conhecida pelas edições encadernadas lançadas nos EUA pela Pantheon Books, e no Brasil pela Editora Conrad, que não trazem as capas originais.




segunda-feira, 4 de julho de 2011

Autores de quadrinhos alternativos em coletânea da Marvel




Strange Tales II é uma coletânea de HQs criadas por autores de quadrinhos alternativos, utilizando heróis e vilões da editora Marvel. São 34 artistas de estilos distintos e com total liberdade para fazer o que quiserem com os personagens da editora.

Dois autores brasileiros participam da coletânea: Rafael Grampá apresenta um Wolverine extremamente violento, mas que se mostra sensível e vulnerável por um instante. A técnica narrativa da HQ é bem eficiente e a qualidade da arte está muito acima do que se costuma ver em quadrinhos de super-heróis. Grampá seria muito bem sucedido trabalhando em qualquer um dos principais títulos da Marvel, mas neste volume talvez esteja um pouco deslocado. Seu estilo é tradicional demais para uma coletânea que se propõe de quadrinhos alternativos ou underground. Eduardo Medeiros, o outro brasileiro em Strange Tales II, também se sai muito bem, com um estilo de desenho simples e divertido.

Gene Yang, autor de O Chinês Americano, apesar de não ter um traço muito original, fez uma das HQs mais divertidas do livro, criando um herói que usa sua incrível falta de habilidade como uma arma para vencer os vilões.

Os irmãos Gilbert e Jaime Hernandez, criadores da revista Love and Rockets, optaram por homenagear as clássicas e ingênuas aventuras dos primórdios da Marvel. Na HQ de Gilbert vemos o Homem de Ferro usando seu primeiro uniforme (aquele que parecia um robô dourando), contracenando com Toro (parceiro do Tocha Humana nos anos 1940) e O Líder (antigo inimigo do Hulk). Os desenhos de Gilbert, mais claros e precisos que de costume, combinados com as cores escolhidas por Jim Campbell, resultam em uma das mais belas artes da coletânea. Jaime, desenhista de traços perfeitos, narra as hilárias trapalhadas de um vilão que tenta a todo custo entrar de penetra em uma festa de super-heroínas.



Tony Millionaire, autor das tiras Maakies, coloca Thor trabalhando como vendedor em uma barraca de parque de diversões. O enredo de sua HQ é absurdo e engraçado, com um tipo de humor que remete mais aos filmes do Monty Python que a uma aventura de super-heróis. Seus desenhos retorcidos parecem querer ocupar cada milímetro dos quadrinhos, e seu uso ostensivo de hachuras faz cada página parecer uma delirante combinação de gravuras antigas com arte pop. Mais uma vez as cores de Jim Campbell complementam a arte com perfeição.


Outros autores, como Dash Shaw, Kate Beaton e Jeffrey Brown participam com histórias interessantes, mas a quantidade de autores inexpressivos e histórias medíocres presentes na coletânea é grande, e acaba baixando consideravelmente a qualidade geral da obra.

Outra característica negativa é o pouco espaço reservado para cada HQ. No volume anterior de Strange Tales foram incluídas duas ótimas histórias escritas por Peter Bagge, cada uma com 24 páginas. Parecia um sinal de que a editora Marvel se arriscaria a investir em obras que fugiam dos clichês das histórias de super-heróis. Nesse aspecto, Strange Tales II é um retrocesso. A maioria das HQs deste novo volume possui entre 2 e 6 páginas, muito pouco para que se desenvolvam idéias mais elaboradas. Os autores devem ter adorado a oportunidade de ganhar algum dinheiro homenageando ou satirizando super heróis, mas o livro está longe de mostrar o potencial dos quadrinhos underground. Proporciona uma leitura divertida, mas bem ligeira, do tipo que não fica muito tempo na memória. Quem quiser ler boas HQs alternativas deve procurar obras mais extensas, como Mundo Fantasma, Love and Rockets New Stories n.3 e Acme Novelty  Library 20. Ou buscar nos sebos a ótima coletânea Comic Book, lançada aqui no Brasil pela editora Conrad, nos anos 1990.

No site Comics Alliance podem ser vistos diversos rascunhos e artes originais feitos para Strange Tales II.

Título: Strange Tales II
Editora: Marvel Books
Ano de Edição: 2011
144 páginas

domingo, 5 de junho de 2011

Lady Gaga


Cada vez que aparece, Lady Gaga está usando as roupas mais diferentes e extravagantes. Era impossível prever com que modelito ela estaria causando estardalhaço quando esta ilustração fosse publicada pela revista Monet, então optei por algo minimalista, que apenas insinuasse que ela estava vestida. Dei mais destaque às pernas e aos cabelos sempre brancos e compridos. Na mesma semana em que a revista saiu, ela cortou o cabelo curto e pintou metade de preto. Sacanagem.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Sticky Fingers, clássico dos Rolling Stones, completou 40 anos



“Sticky Fingers” foi gravado durante a fase mais negra dos Rolling Stones, logo após o falecimento do guitarrista Brian Jones e o desastroso concerto em Altamont, no qual quatro pessoas morreram, uma delas assassinada pelos seguranças do evento. Lançado em 1971, foi o nono álbum de estúdio da banda e o primeiro produzido pelo selo dos próprios Stones, o que lhes garantia maior liberdade criativa. O lançamento provocou polêmica não só pelas citações a drogas que aparecem em várias faixas, mas também pela capa provocativa, concebida por Andy Warhol. Considerada obscena, a foto da capa foi censurada e substituída em alguns países, como a Espanha.

O clima do disco é sombrio, lúgubre. A devastação emocional causada pela vida desregrada, confusões amorosas e consumo exagerado de álcool e drogas é o tema implícito de quase todas as canções. Até a volúpia característica da música dos Stones aqui aparece de forma estranha, mais agressiva que de costume.

A faixa de abertura é “Brown Sugar”, canção de trabalho típica dos Stones, com clima animadinho e um riff de guitarra parecido com dezenas de outros criados por Keith Richards. A letra confusa fala sobre tráfico de escravos e sexo, e está entre as piores já escritas por Mick Jagger, mas a canção possui um refrão grudento e tornou-se o maior hit de “Sticky Fingers”. O disco fica bem mais interessante a partir da terceira faixa, “Wild Horses”, balada de sotaque country, com os violões tocados por Mick Taylor criando uma textura delicada sobre a qual os solos da guitarra de Richards soam tristes e contidos, mas intensamente melódicos. Jagger parece cantar com o coração dilacerado e, para manter o clima depressivo, Charlie Watts toca sua bateria como se mal conseguisse suportar o peso das baquetas.

Como nos dois álbuns anteriores, “Beggars Banquet” e “Let it Bleed”, em “Sticky Fingers” os Stones buscam inspiração principalmente em ritmos tradicionais americanos. “You Gotta Move” é a regravação de um antigo blues, com o violão em primeiro plano tocado com habilidade e sentimento por Richards, e Jagger cantando com uma voz meio caricatural, como se tentasse imitar os velhos cantores do Delta do Mississipi. “I Got the Blues” é uma canção soul ao estilo da tradicional gravadora Stax Records, que tinha entre seus músicos mais famosos o cantor Otis Redding.

“Bitch” abre o lado B (do vinil) com riffs de guitarra marcantes, como os de “Brown Sugar”, mas aqui o clima é mais tenso, a sonoridade é mais despojada e os solos de guitarra e arranjos de metais se encaixam com perfeição. A letra, sobre o esgotamento e a frustração provocados pelo amor é cantada em um tom queixoso e com certa dose de raiva.

“Sister Morphine” é a composição mais sombria deste disco e talvez de toda a carreira dos Stones. A letra escrita por Marianne Faithfull narra a agonia de um viciado em um hospital. A canção começa com alguns acordes tristonhos do violão de Richards, tocados com uma batida seca. Logo entram os vocais, um fiapo de voz de Jagger, que vai crescendo ao longo da música até se tornar um lamento desesperado. Jagger canta sem afetação, sua emoção parece genuína, talvez porque soubesse que aquela pessoa implorando por morfina bem poderia ser ele próprio. Uma slide guitar tocada por Ry Cooder surge ainda na primeira parte da música, mais alta que o violão, com um timbre estranho e escuro. Jack Nitzche também participa da gravação, tocando um piano que soa fantasmagórico. “Sister Morphine” já havia sido lançada em um compacto de Marianne Faithfull em 1969, com alguns dos Stones tocando os instrumentos, mas a versão presente em "Sticky Fingers" é musicalmente superior e bem mais assustadora.

Perto do final do disco o clima fica um pouco mais leve. “Dead Flowers” é um country rock irônico que faz alusão ao uso de heroína e fala de um junkie pobretão que desdenha de uma mulher rica. “Moonlight Mile” encerra o disco de modo inesperado. Começa com uma melodia vagamente oriental tocada no violão por Mick Jagger, enquanto um arranjo de cordas vai se tornando suntuoso e dialoga com os sons delicados de um piano. Jagger fala com cansaço, mas também alívio, sobre voltar pra casa após um dia de trabalho exaustivo. Um final relativamente suave após uma seqüência de canções perturbadoras.


Capa original do disco.

Capa com a qual o disco foi lançado na Espanha.


terça-feira, 3 de maio de 2011

Jim Woodring


A mais recente novela gráfica do Jim Woodring deve sair em breve, com enredo incompreensível e arte magnífica. As primeiras dez páginas do livro podem ser conferidas no site The Beat.

domingo, 24 de abril de 2011

A reedição de Captain Easy, clássico das HQs de aventura



Wash Tubbs foi provavelmente a primeira história em quadrinhos de aventura publicada nos EUA, em 1924. Captain Easy apareceu como um personagem secundário de Wash Tubbs, em 1929, mas a partir de 1933 ganhou sua própria HQ, Captain Easy: Soldier of Fortune, publicada em jornais aos domingos, em página inteira e colorida. A editora Fantagraphics está relançando as aventuras de Captain Easy em edições luxuosas de capa dura, tamanho grande e com as cores originais.

Roy Crane foi o talentoso criador de Wash Tubbs e Captain Easy. Não foi o inventor dos quadrinhos de aventura – Zé Caipora, do artista ítalo-brasileiro Ângelo Agostini já era publicado em 1883! – mas foi muito influente para o desenvolvimento do gênero nos EUA. Crane criava histórias nas quais aventura, humor e romance apareciam na medida certa. As narrativas eram fluidas, simples e ingênuas, mais voltadas para o público infantil. Certamente eram tão divertidas quanto uma boa matinê de cinema.


Captain Easy é um personagem destemido, durão e cínico. Algumas vezes é capaz de “jogar sujo” para vencer um inimigo, mas certamente possui boa índole. Viaja por diversos países em busca de aventuras. Combate piratas, caça tesouros, conhece belas mulheres e descobre culturas exóticas.

Os desenhos de Crane são claros, simples, arredondados. Combinam perfeitamente com as cores primárias utilizadas na impressão dos jornais da época. Seus personagens eram desenhados de modo mais caricatural que realista, com traço solto e leve, sem muita preocupação com detalhes. Na diagramação, Crane soube explorar o espaço de página inteira das HQs de Captain Easy, alternando quadrinhos horizontais e verticais para conseguir um efeito mais dinâmico. O autor também usava os quadrinhos horizontais para mostrar belas imagens panorâmicas de lutas e perseguições. Um detalhe divertido da arte de Crane são os animais com olhos esbugalhados e expressão cômica que apareciam como figurantes em alguns desenhos.


Como costuma fazer em suas reedições de quadrinhos clássicos, a editora Fantagraphics realizou um ótimo trabalho. O design do volume é simples e elegante, com destaque para a capa feita de vários materiais, como tecido e papelão. Os quadrinhos foram escaneados de jornais antigos e as cores originais foram mantidas, preservando a aparência das primeiras edições. A coletânea é enriquecida por vários textos introdutórios, inclusive alguns parágrafos escritos por Charles Schulz (autor de Peanuts). No final do volume ainda há uma nota explicando o processo de colorização dos antigos quadrinhos de jornais, além de três paginas com artes originais de Crane. Algumas páginas do livro podem ser vistas no site da editora.

Título: Captain Easy – Vol.1 – 1933-1935
Autor: Roy Crane
Ano de Edição: 2010
Editora: Fantagraphics Books
144 páginas

domingo, 17 de abril de 2011

The Kinks!


The Kinks foi uma das melhores bandas de rock dos anos 60. Emboram não sejam muito conhecidos fora da Grã-Bretanha, criaram um punhado de canções fantásticas. Para quem se interessar, escrevi uma matéria sobre eles para o site Ambrosia.

terça-feira, 29 de março de 2011

Ilustração: Martin Scorsese e Leonardo Dicaprio


O diretor Scorsese e o ator Dicaprio trabalharam juntos em filmes como "Gangues de Nova York". Fiz esta ilustração para a revista Monet.


domingo, 13 de fevereiro de 2011

Uma brilhante reedição de Príncipe Valente


Prince Valiant é um jovem príncipe medieval. Sua epopéia tem início em um reino pantanoso no norte da Europa. Entre uma aventura e outra, ele viaja para terras distantes, combate invasores hunos e saxões, e se torna cavaleiro do lendário Rei Arthur. Conhecido no Brasil como Príncipe Valente, ou simplesmente Val, o personagem foi criado por Harold Foster em 1937 para protagonizar histórias em quadrinhos publicadas em jornais. Logo se tornou um clássico e teve sua saga transformada em filmes e animações. Prince Valiant – Vol.2 foi lançado nos EUA em 2010, e reúne histórias originalmente publicadas entre 1939 e 1940.

Antes de começar a fazer quadrinhos, Foster trabalhou como ilustrador e estudou na Academia de Artes de Chicago. Sua formação acadêmica, somada à experiência no ramo de ilustrações, contribuiu para que seus desenhos adquirissem um estilo sóbrio e detalhista. Seus traços finos possuem uma precisão fotográfica e seu bom gosto para combinação de cores compensava a limitada palheta disponível para os quadrinhos de jornais da época.

As histórias reunidas em Prince Valiant – Vol.2 mostram uma arte madura. As imagens de batalha são as que mais chamam a atenção, pelo dinamismo e riqueza de detalhes. O autor fazia uma exaustiva pesquisa iconográfica para que as armas e roupas de seus personagens fossem verossimilhantes. Alguns quadros de Prince Valiant também se destacam pelo modo cuidadoso e complexo como o autor retrata a paisagem, dando a certas cenas uma acentuada sensação de profundidade, incomum nas histórias em quadrinhos.
No quadro abaixo fica evidente por que a arte de Foster é tão cultuada. Um grupo de guerreiros hunos está tentando invadir um castelo defendido por Val e mais alguns soldados. A batalha é minuciosamente retratada, desde a grande variedade de armas até as técnicas de combate. Nos rostos dos invasores vemos expressões de ódio e medo, enquanto Val e seus companheiros parecem calmos, confiantes – alguns até sorriem. Mas o detalhe de uma flecha prestes a atingir a perna de um desses soldados, no canto inferior da imagem, é um aviso discreto de que a batalha não será tão fácil.


A opção por não usar balões de texto contribui para criar um ritmo de leitura mais lento – adequado para que o leitor possa observar os detalhes de cada quadrinho. É um estilo narrativo que exige certo esforço de quem lê.

Os personagens criados por Foster não são muito originais – príncipes heróicos, bruxas, malandros simpáticos, reis cruéis – mas os enredos são bem construídos, com muitas reviravoltas e suspense. Aventuras e batalhas preenchem a maior parte das narrativas, mas são os episódios de humor que parecem ter resistido melhor ao tempo, como a passagem em que Val executa um arriscado plano apenas para roubar as roupas de um inimigo. Para temperar as histórias, o autor também usa um pouco de drama e romance.


As HQs do Príncipe Valente são constantemente reeditadas no mundo todo, mas esta coleção iniciada em 2009, pela editora Fantagraphics, é especial pela preocupação em restaurar a obra de Foster com o máximo de fidelidade. A arte original foi respeitada e cuidadosamente reconstituída a partir das provas de impressão originais, além de outras fontes de alta qualidade. A publicação em cores, com capa dura e papel opaco é luxuosa na medida exata. É uma edição definitiva e uma homenagem justa à arte de Harold Foster.

Título: Prince Valiant – Vol.2 – 1939-1940
Autor: Harold Foster
Ano de Edição: 2010
Editora: Fantagraphics Books
112 páginas

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Os piratas zumbis de David B.



The Littlest Pirate King é uma história em quadrinhos estranha e mórbida. Narra as peripécias de um grupo de piratas mortos-vivos que, como punição por seus crimes, foram condenados a vagar eternamente pelos mares em um velho navio. Após séculos de tediosas viagens náuticas, os bandidos lançam sua nau contra recifes e monstros marinhos, na esperança de encontrarem uma morte definitiva. Mas esta lhes é repetidamente negada por uma força maior, possivelmente divina. Como se todo esse tormento não bastasse, os piratas ainda se vêem obrigados a cuidar de uma criança náufraga.


A história é de autoria do escritor francês Pierre Mac Orlan e foi originalmente publicada nos anos 1920, na forma de um conto. A adaptação para os quadrinhos foi feita por outro francês, David B., pseudônimo de Pierre-François Beauchard, mais conhecido como autor da HQ autobiográfica Epiléptico (publicada no Brasil).

The Littlest Pirate King foi lançado nos EUA no final de 2010, pela editora Fantagraphics, com capa dura, páginas coloridas e preço meio salgado. Com menos de 50 páginas, proporciona uma leitura fácil e rápida. O enredo pode ser visto como uma reflexão sobre o destino - os piratas relutam em aceitar a existência a que foram condenados e confrontam a ordem divina. Mas a narrativa nunca é óbvia, e pode ter várias interpretações. A criança encontrada pelos piratas instigará o leitor a pensar na convivência entre seres aparentemente incompatíveis, e a última metade do livro pode ser uma metáfora do fim da infância, mas esta não é uma história com moral ou mensagem clara. Quem está acostumado com quadrinhos mais tradicionais poderá estranhar alguns trechos oníricos e o final abrupto e aberto.

Os belos desenhos de David B., feitos com traços grossos e tremidos, são elegantemente expressivos. Sombras espessas cobrem grande parte das páginas e realçam o tom mórbido da narrativa. As figuras desenhadas pelo artista são simples, mas o modo como são dispostas em cada quadro é cuidadoso e inventivo. David B. consegue colocar um grande número de personagens em um quadrinho de modo que todos pareçam necessários, no lugar certo e com uma expressão facial individual. Perspectivas incomuns são utilizadas para acentuar a dramaticidade de algumas cenas. As cores foram muito bem escolhidas e tornam as ilustrações mais divertidas.


Após criar HQs inspiradas por sonhos – publicadas na década de 1990, inéditas no Brasil – e histórias familiares, David B. se saiu muito bem com esta adaptação literária. Não é e nem pretende ser uma obra profunda e impactante como Epiléptico, mas mostra um artista maduro e talentoso, explorando a versatilidade de sua narrativa.

Título: The Littlest Pirate King
Autores: Pierre Mac Orlan e David B
Editora: Fantagraphics Books
Ano de Edição: 2010
48 páginas

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

As melhores HQs publicadas em 2010 nos EUA – Alternativas e clássicas



(Originalmente postada no site ambrosia.com.br)

Nos EUA, autores de quadrinhos são cada vez mais respeitados como artistas e intelectuais. Este status ficou claro em 2010 quando ilustrações de Chris Ware e Robert Crumb, rejeitadas por importantes publicações norte-americanas, tiveram imensa repercussão no meio cultural. Ware zombou dos milionários em uma divertidíssima arte para a capa da revista de negócios Fortune, na qual os ricos dançam no topo de um edifício enquanto o resto da população sofre os efeitos da crise financeira. A capa de Crumb para a revista The New Yorker parece ter sido recusada apenas por mostrar um casamento homossexual. Crumb não divulgou sua ilustração, mas a de Ware apareceu em vários sites. Nos dois casos ficou claro que o autor de quadrinhos não é necessariamente um criador de desenhos decorativos. Muitas vezes ele tem uma visão do mundo aguçada a ponto de abalar os responsáveis por publicações sólidas e de renome.
Abaixo estão algumas das melhores HQs publicadas em 2010 nos EUA, incluindo obras de Chris Ware e Robert Crumb (sem ordem de preferência):

The Best American Comics 2010 - Vários autores - Neil Gaiman (editor) 
Gaiman, autor da cultuada série Sandman, selecionou algumas das melhores HQs norte-americanas publicadas entre Setembro de 2008 e Agosto de 2009. Genesis de Crumb, Asterios Polyp de Mazzucchelli e Scott Pilgrim vs. The Universe estão entre as obras mais conhecidas desta coletânea e foram publicadas no Brasil. As surpresas ficam por conta de histórias menos conhecidas, como Acme Novelty Library 19, de Chris Ware, e a sombria The Lagoon, de Lili Carré.

Love and Rockets New Stories n.3 - Gilbert Hernandez e Jaime Hernandez
Gilbert exagerou na dose de sexo e violência, mas Jaime criou uma de suas melhores HQs. Abuso infantil, traumas e relações familiares dilacerantes são mostrados em um arco de três histórias, nas quais o tom narrativo salta do cômico ao trágico em poucos quadrinhos.

Strange Tales - Vários autores
Os heróis da Marvel revistos por autores de quadrinhos independentes. Os destaques são as hilárias aventuras criadas por Peter Bagge para Homem-Aranha e Hulk. Paul Pope (Batman: Ano100), Jason (The Living and the Dead), Dash Shaw (Umbigo sem Fundo) e Tony Millionaire (Maakies) também contribuem com ótimos trabalhos.

Wilson - Daniel Clowes
Novela gráfica composta por setenta HQs de uma página que podem ser lidas separadamente, mas que juntas formam um retrato do personagem que dá nome à obra. Wilson é um sujeito arrogante, egoísta, solitário, que aborda desconhecidos com perguntas sobre suas vidas pessoais apenas para zombar das respostas. Clowes explora novos estilos narrativos e se consolida como um dos melhores autores de quadrinhos contemporâneos.

The Extraordinary Adventures of Adele Blanc-Sec (Vol. 1) - Jacques Tardi
O francês Tardi é um artista versátil, narrador cuidadoso de fatos históricos e imaginários. As linhas claras e leves de seus desenhos remetem ao estilo de outro francês, o cultuado Moebius.  Suas principais obras estão sendo relançadas nos EUA pela editora Fantagraphics.

Reedição primorosa das aventuras do Príncipe Valente, com as magníficas cores originais. Mais que qualquer lançamento individual, o que se destacou no mercado norte-americano de quadrinhos em 2010 foi a consolidação de um padrão rigoroso de qualidade gráfica. Este padrão é bem visível nas reedições de HQs clássicas e tem como item fundamental a reprodução fiel da arte original dos quadrinhos, inclusive as cores, mesmo que com algumas manchas e imperfeições. O respeito com as antigas narrativas gráficas não partiu das editoras, mas sim de uma nova geração de leitores cada vez mais exigentes e conscientes do valor cultural das HQs.

Thirteen Going on Eighteen - John Stanley
Melvin Monster 2 - John Stanley
O cartunista Seth, responsável pelo design das reedições, infelizmente optou por não incluir as capas originais. Mas estas publicações luxuosas são irresistíveis para quem conhece a importância do trabalho de John Stanley, autor mais conhecido por levar a personagem Luluzinha aos quadrinhos.

Um personagem extremamente complexo, exposto de modo impiedoso e contundente. A arte de Ware continua clara e geométrica, mas a técnica narrativa está mais ousada, explorando os limites da fragmentação dos quadrinhos e mudanças drásticas de estilo gráfico.

X´ed Out - Charles Burns
Nesta primeira parte da mais recente novela gráfica de Burns, um rapaz vaga entre delírios, lembranças e raros momentos de lucidez. Alguns leitores reclamaram que Burns não deu muita atenção ao roteiro. Vale ao menos pela alta qualidade gráfica e as referências às clássicas HQs do Tintin.

Acusados de incitarem a violência, os quadrinhos de horror foram praticamente banidos das bancas norte-americanas na segunda metade dos anos 1950. Esta coletânea é uma ótima introdução ao gênero, com reproduções de histórias e capas originais.

The Littlest Pirate King - Pierre Mac Orlan, David B.
Acostumados a conviver com monstros marinhos, pilhar navios e assassinar marinheiros, um grupo de assustadores piratas mortos-vivos tem sua rotina radicalmente transformada quando se vêem obrigados a cuidar de uma criança. David B., autor da HQ autobiográfica Epilético, usa sua arte bela e sombria para adaptar um divertido texto de Orlan.

Exemplo primoroso de jornalismo em quadrinhos. Foi lançado no Brasil com o título Notas sobre Gaza, pela editora Companhia de Letras.