quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Eagle, a inovadora publicação que levou os britânicos ao espaço

Eagle foi uma revolucionária, popular e influente revista britânica voltada para crianças e adolescentes. Publicada entre os anos de 1950 e 1969, combinava histórias em quadrinhos e matérias sobre esportes e ciências. Em suas páginas nasceu o personagem de ficção científica Dan Dare, que continua na ativa em HQs escritas por autores como Grant Morisson e Garth Ennis.
O idealizador da Eagle foi o vigário anglicano Marcus Morris, que buscava um jeito inovador de transmitir os ideais da igreja aos jovens. Embora detestasse a violência dos quadrinhos de terror, Morris estava ciente de que nenhuma publicação britânica possuía a qualidade gráfica dos gibis americanos de crime, horror e guerra que tinham se tornado populares entre os jovens britânicos após a Segunda Guerra. Com a ajuda do artista Frank Hampson, desenvolveu o modelo do que seria a Eagle: Uma publicação moderna e educativa, que usaria a linguagem dos quadrinhos para transmitir valores morais de modo sutil, sem preconceitos étnicos e sem impor ideais religiosos.
A publicação foi um sucesso desde a primeira edição, que vendeu cerca de 900.000 cópias. Enquanto as publicações concorrentes mais se pareciam com livros ilustrados contendo longos e enfadonhos textos educativos, a Eagle era mais leve e direta. A arte dos quadrinhos era irretocável e as magníficas ilustrações eram modernas e coloridas. Todas as edições traziam pelo menos um cutaway – ilustração de um veículo moderno, cortada de modo que se pudessem ver as peças em seu interior.


O grande talento da Eagle foi Frank Hampson, criador e principal ilustrador do personagem Dan Dare. A arte de Hampson era extremamente detalhista, e a qualidade da colorização muito superior a dos gibis norte-americanos.


Para atingir um efeito mais realista, personagens e objetos eram desenhados a partir de modelos ou fotos. Muitas vezes a própria equipe de ilustradores posava para a criação da arte.


Os roteiros das aventuras espaciais eram ingênuos, mas havia grande preocupação com a plausibilidade científica. O escritor Arthur C. Clarke contribuiu como consultor para várias HQs.


Hampson abandou definitivamente as HQs de Dan Dare em 1959 e o personagem passou a ser desenhado por outros artistas. A última HQ de Dan Dare para a Eagle foi publicada em 1967, com arte bem inferior a dos anos 1950.
A derradeira contribuição de Hampson para a Eagle foi a HQ The Road of Courage, sobre a vida de Jesus Cristo, feita a partir de minuciosa pesquisa iconográfica.
A partir de meados da década de 1960 as vendas da publicação caíram drasticamente. Os editores tentaram acompanhar as mudanças de comportamento dos leitores, incluindo matérias sobre música pop, mas pouco adiantou. Em meio à explosão da contracultura, a publicação parecia irremediavelmente reacionária.
A última edição da Eagle saiu em Abril de 1969, poucos meses antes da chegada do homem à Lua. A Eagle serviria de modelo para incontáveis publicações em todo o mundo. Dan Dare se tornaria personagem de programas de rádio e TV, seria citado em músicas do Pink Floyd (Astronomy Domine) e David Bowie (D.J.) e serviria de inspiração para vários outros personagens de ficção científica. A arte de Dave Gibbons seria muito influenciada pelo estilo de Hampson. Dan Dare também é citado em The League of Extraordinary Gentlemen: Black Dossier, de Alan Moore.
Várias coletâneas foram lançadas reunindo material da Eagle. Em geral esses livros mais se parecem com cadernos de recortes – um amontoado de matérias, ilustrações reduzidas e HQs incompletas, com poucas informações sobre os autores. Mesmo assim certas matérias acabaram adquirindo um humor involuntário, como esta abaixo, que mostra como seriam os computadores pessoais nos anos 1990.


Algumas propagandas também se tornaram hilárias, como a deste brinquedo dos anos 1960, obviamente perigoso. Será que o Inmetro aprovaria?

Nenhum comentário:

Postar um comentário