quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

SUPERMEN! The First Wave of the Comic Book Heroes 1936-1941



Autores: Vários
Editor: Greg Sadowski
Ano de Edição: 2009
Editora: Fantagraphics
192 pag.

A importância deste livro está em apresentar uma visão geral dos primeiros comic-books de heróis, antes do surgimento de personagens mais maduros e histórias mais criativas nos gibis do Spirit, Plastic Man e outros.

Praticamente todos os enredos são bem ingênuos, inspirados, assim como as personagens, na literatura “pulp” e nos quadrinhos de jornais, como Flash Gordon.

A qualidade da arte varia muito. Logo na primeira história, de Jerry Siegel e Joe Shuster (os autores do Super...ah vocês já sabem!), publicada em 1936, vemos belos desenhos de Shuster, em preto e branco e repletos de hachuras, lembrando ilustrações antigas de livros.

Nas duas histórias desenhadas por Jack Kirby (1940 e 41, respectivamente), fica claro seu talento para desenhar máquinas com formas elegantes e muitos detalhes. Mas quanto à anatomia humana, ele ainda tinha muito que aprender...

Com os personagens The Flame e Yarko the Great, as qualidades da arte e roteiro de Will Eisner começam a se destacar das de seus contemporâneos, mas ainda está distante da revolução que provocaria com Spirit.

Jack Cole aparece com vários personagens, como o super vilão The Claw, mas se destaca com o personagem The Comet, combinando humor, violência e tragédia, e iniciando a evolução que o levaria ao genial Plastic Man.

A arte que mais me chamou a atenção foi a de Basil Wolverton em Spacehawk, de 1940. Combina hachuras e superfícies lisas com raro equilíbrio, e desenha com muita personalidade.

De Fletcher Hanks temos duas histórias. Este desenhista e roteirista tem sido motivo de culto nos EUA e sua obra está sendo republicada pela Fantagraphics. O humor involuntário de suas HQs é incomparável. Seus roteiros e diálogos são absurdos, quase sem lógica. E sua falta de talento para desenhar é hilária.

Várias capas originais foram reproduzidas nesta coletânea, e são todas belíssimas, muito imaginativas, criadas por artistas como Will Eisner, Jack Cole e Basil Wolverton. Dá vontade de arrancar as páginas e fazer um pôster com cada uma dessas artes.


Felizmente todas as histórias foram reproduzidas mantendo-se as cores originais, o que realça o caráter histórico desta coletânea. Parece-me absurdo as editoras Marvel e DC relançarem seus clássicos com novas cores, aplicadas digitalmente. Uma obra tem valor histórico quando suas características originais são mantidas. Quando compro uma série de livros intitulados “Biblioteca Histórica Marvel” e descubro que as cores das HQs não são as originais, foram trocadas sem necessidade, tenho a certeza de que as grandes editoras tem muito que aprender com pesquisadores e colecionadores de quadrinhos.

Parabéns para a Fantagraphics e uma sonora vaia para Marvel e DC!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Asterios Polyp



Autor: David Mazzucchelli
Ano de Edição: 2009
Editora: Pantheon Books
344 pag.
Capa: Dura com Sobrecapa.

Vocês já devem ter lido várias críticas sobre esta tão aguardada Graphic Novel de Mazzucchelli, portanto aqui serão comentadas apenas algumas das características do livro que mais chamam a atenção.

Graficamente a obra é muito criativa, mas não chega a ser revolucionária como esperavam alguns, ainda mais se comparada ao que Richard McGuire e Chris Ware andam fazendo. O traço dos desenhos é perfeito, caricatural na representação dos personagens, mas realista e preciso quando necessário.

Um dos destaques da obra é o uso criativo das cores: As cenas que se passam no presente, a partir do incêndio que destrói o apartamento de Polyp, possuem um tom predominantemente amarelo, como se as chamas continuassem queimando metaforicamente no decorrer da historia, até o momento em que Polyp reencontra sua amada, e o personagem tem uma chance de recuperar sua paz de espírito. Apenas nessa sequencia de dez páginas, bem próxima do final, uma gama maior de cores é utilizada.

Nas passagens em que Polyp relembra sua convivência com Hana, a mulher a que amava, predominam o azul e o rosa, cores conflitantes acentuando o conflito entre as personagens.

O roteiro se desenvolve com fluidez. Da pra ler de uma sentada. O autor domina a técnica da narração com maestria, intercalando momentos sérios e cômicos com equilíbrio. Mas parece que falta carisma aos personagens. E um pouco de originalidade também: o intelectual arrogante que deve aprender a ser mais humilde e a artista tímida que depois de muito sofrer aprende a se impor e se tornar o foco das atenções não são grande novidade.

Por fim, dentre os melhores momentos do livro, dois são antológicos: a sequencia na qual uma bolha no pé de Polyp lhe da uma sensação de "deja vu", trazendo um turbilhão de memórias da época em que vivia com sua amada. É graficamente perfeita e carregada de emoção; e o final do livro, engenhoso, inesperado, terrível e hilário ao mesmo tempo, salvando a história do que parecia ser um epílogo meio água com açúcar.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A Smithsonian Book of Comic- Book Comics



Autores: Vários
Editores: Michael Barrier e Martin Williams
Ano de Edição: 1981
Editora: Smithsonian Institution Press
336 pág.

O mercado americano de quadrinhos vem sendo inundado de coletâneas de personagens clássicos, desde os mais famosos até os mais obscuros. É difícil dizer se as editoras brasileiras seguirão essa tendência, mas é um momento oportuno pra comentar esta ótima coletânea.

A edição é luxuosa, com capa dura, sobrecapa e miolo em papel sulfite de alta gramatura. A impressão é magnífica: nada daquela tenebrosa recolorização feita por computador, com a qual tanto Marvel quanto DC vem republicando seus clássicos. Os editores do Smithsonian optaram simplesmente por escanear os antigos gibis, mantendo os ocasionais defeitos de impressão e até o tom envelhecido das páginas. Tem-se a sensação de estar folheando as revistas originais, e as cores, por mais simples que sejam, combinam com os desenhos.

Se a edição já é muito boa, a variedade e qualidade das histórias escolhidas são impressionantes. Como diz o título do livro, trata-se de uma coletânea de comic-books (gibis seria a tradução mais adequada?) abrangendo o período de 1938 a 1955. Um texto introdutório explica como surgiram os comic-books. Antes de cada história também há um breve texto apresentando personagens e autores.

As duas primeiras histórias não são grande novidade para os leitores brasileiros: as primeiras aparições de Superman, em 1938, e Batman, em 1939 (em Action Comics No. 1 e Detective Comics No. 27, respectivamente). Mas logo na terceira HQ, Scribbly, de Sheldon Mayer, aparece a que talvez seja a primeira paródia de um super-herói, publicada em 1940!

Em seguida temos a origem do Plastic Man do grande Jack Cole, um considerável salto qualitativo em matéria de super-heróis.

Captain Marvel Battles the Plot Against the Universe, escrita por Otto Binder, mostra uma longa aventura do herói, equilibrando aventura e humor, bem adaptado ao público infantil.
Powerhouse Pepper de Basil Wolverton já apresentava nos anos 40 o mesmo tipo de humor absurdo que faria a fama da revista MAD nos anos 50.


Geroge Carlson comparece com seus contos de fada surreais, repletos de trocadilhos e piadas visuais.

A fase de Little Lulu escrita por John Stanley finalmente está sendo relançada com as cores originais pela Dark Horse. Nesta coletânea aparecem quatro dessas histórias geniais.

Carl Barks mostra sua arte e roteiro impecáveis em uma história natalina de 1949; mas o que vem em seguida é a parte mais extraordinária do livro, começando pelo Pogo de Walt Kelly, mostrado em sua primeira aparição, na revista Animal Comics No.1 de 1942, e depois já com seu visual definitivo, nos anos 50, com o humor e a inteligência que o tornariam clássico.




The Spirit, de Will Eisner, era publicado em jornais, mas na forma de um comic-book encartado. As três histórias apresentadas nesta coletânea são magníficas, mas deve-se destacar a obra-prima sobre Gerhard Shnoble, o homem que podia voar.

A parte final do livro é dedicada à editora E.C., começando com duas narrativas de guerra escritas e desenhadas por Harvey Kurtzman. Corpse on the Imjin, a mais surpreendente, mostra com realismo e crueza a luta corpo-a-corpo entre dois soldados. Não há nenhum sinal de heroísmo, não é o bem lutando contra o mal; para que um homem sobreviva é preciso que seu oponente seja morto. Todos os quadros da última página são usados para mostrar apenas um personagem: o soldado derrotado, cujo cadáver vai sendo lentamente levado pela correnteza do rio.

O lado cômico de Kurtzman também aparece em duas hilárias histórias retiradas da revista MAD.

Encerrando o livro, temos Master Race, de Bernard Kriegstein, um dos desenhistas mais inovadores da E.C., com seu traço sombrio e seu modo peculiar de desenhar objetos em movimento.



Mesmo se comparada com coletâneas mais recentes, esta é uma das melhores e mais abrangentes. Infelizmente está fora de catálogo há muito tempo, e é praticamente desconhecida no Brasil.