quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

The Best American Comics 2009, Editado por Charles Burns


Autores: Vários
Editor: Charles Burns
Ano de Edição: 2009
Editora: Houghton Mifflin Harcourt
352 páginas

O título deste livro pode provocar alguma confusão: The Best American Comics 2009 na verdade reúne quadrinhos publicados nos Estados Unidos entre Setembro de 2007 e Agosto de 2008. É parte de uma série de coletâneas anuais iniciada em 2006, e que já teve como editores Harvey Pekar e Chris Ware. O editor desta edição é Charles Burns, autor de Black Hole. Ele fez a seleção final das histórias, e o resultado foi bem mais equilibrado que nas edições anteriores. O leitor não encontrará nada de revolucionário, mas também não ficará decepcionado.

Alguns autores veteranos mostram que ainda estão em grande forma: Peter Bagge, Kaz, Robert Crumb e Art Spiegelman. Outros, que se destacaram recentemente, como Chris Ware, Daniel Clowes e Adrian Tomine, demonstram uma evolução constante. Tomine cada vez mais se aproxima da literatura americana moderna, com os finais abruptos e surpreendentes de suas HQs.


Mas os grandes destaques desta coletânea são dois autores novos e pouco conhecidos. Sammy Harkham e Andrés Nilsen.

Num trecho da HQ Black Death de Harkham, acompanhamos um Golem, um maluco e um sujeito varado por flechas vagando sem rumo por uma floresta. A arte simples e leve contrasta deliciosamente com a história sombria.



Já no excerto da HQ de Nilsen são os pássaros que falam e comentam as ações sem sentido de dois sujeitos num cenário devastado por um acidente aéreo. Os traços são finos e elegantes, combinados com texturas criadas por superfícies pontilhadas.


Super-heróis e outros personagens de grandes editoras ficaram de fora. A maior qualidade desta coletânea, afinal, é apresentar autores mais ou menos obscuros a um grupo mais amplo de leitores.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Acme Novelty Library 19 de Chris Ware


Autor: Chris Ware
Editora: Drawn and Quarterly
Ano de Edição: 2008
80 páginas

Enquanto os brasileiros começam a conhecer um pouco do trabalho de Chris Ware com a edição nacional de Jimmy Corrigan, o autor continua produzindo histórias cada vez mais surpreendentes.
A primeira parte de Acme Novelty Library 19 é uma impressionante HQ de ficção científica, narrando a chegada dos primeiros colonos terrestres a Marte. Os desenhos de Ware combinam perfeitamente com o gênero, o personagem principal é solitário e deslocado, como tantos outros personagens do autor, e o final da história é aterrador. Terminada esta primeira parte do livro, descobrimos que se tratava de uma “história dentro da história”, um antigo conto de ficção científica escrito pelo pai de Rusty Brown. Rusty já apareceu em diversos livros de Ware, mas esta é a primeira vez em que seu pai se torna o personagem principal.



Vemos então suas desventuras amorosas e sexuais, sua tentativa fracassada de se tornar um grande escritor, e o desenrolar de sua vida até o desespero mudo do último quadro. Certamente um dos pontos altos da carreira de Ware.


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Coletânea reúne primeiras HQs de Steve Ditko, co-criador do Homem-Aranha


Autor: Steve Ditko
Editora: Fantagraphics Books
Ano de Edição: 2009
240 páginas

Após o fim da Segunda-Guerra, a venda de quadrinhos de super-heróis caiu drasticamente. Algumas editoras, como a EC e a Charlton apostaram em outros gêneros, principalmente terror e ficção científica, e as vendas de suas revistas dispararam. Os autores dessas HQs tinham muita liberdade para criar, desde que as revistas vendessem bem.

Em 1954, pressionadas pela opinião pública americana, as editoras criaram o Comics Code, um código de autocensura que acabou eliminando do mercado as revistas de quadrinhos consideradas violentas.

A coletânea Strange Suspense – Steve Ditko Archives (vol.1) reúne alguns dos primeiros trabalhos profissionais de Ditko, entre 1953 e 1954. Exceto a última, essas HQs foram criadas pouco antes de o Comics Code entrar em vigor. Embora tenha trabalhado com vários gêneros, do western ao romance, é nas histórias de terror, suspense e ficção científica que Ditko mostra suas maiores habilidades, em narrativas em que parece não haver limites para a imaginação: um homem que derrete, um cowboy morto-vivo radioativo, manequins de loja que bebem sangue humano, um episódio de terror narrado por um vestido de noiva e uma versão vampiresca do conto de Cinderela entre outras bizarrices divertidas. Nas histórias de terror, a violência mostrada ia muito além do que se via no cinema e na TV, naqueles tempos, mas nem se compara ao que vemos nos videogames e filmes de hoje.

Enquanto a primeira onda de super-heróis foi inspirada pela literatura “pulp”, esta nova geração de autores de quadrinhos dos anos 50 parece influenciada por fontes de qualidade literária superior, como Alan Poe e outros autores clássicos de terror, H. G. Wells e vários escritores de ficção científica que começavam a ficar famosos (Crônicas Marcianas, obra-prima da ficção científica escrita por Ray Bradbury, havia sido publicada em 1950).



O traço de Ditko combina perfeitamente com as histórias bizarras e grotescas, certamente ele estava entre os melhores artistas da época. A Fantagraphics teve o bom senso de manter as cores originais, o que sem dúvida agradará aos admiradores do trabalho de Ditko e fans de quadrinhos antigos em geral.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Sundays with Walt and Skeezix


Autor: Frank King
Editora: Sunday Press Books
Ano de Edição: 2007
96 páginas

Gasoline Alley, de Frank King, começou a ser publicada semanalmente em 1918, no jornal Chicago Tribune, em cartuns de um único quadro. Em 1919 evoluiu para tiras diárias, cujo tema principal era um grupo de amigos que passavam o tempo conversando sobre automóveis. Mas é em 1921 que tem início a fase mais interessante de Gasoline Alley, quando o solteirão Walt, um dos personagens principais, encontra um bebê abandonado na porta de sua casa, e após certa relutância decide criá-lo.

É provável que essa reviravolta no tema da história tenha sido um pedido de Joseph Peterson, um dos editores do Chicago Tribune. Peterson tinha ideais socialistas e populistas, e costumava encorajar os autores das tiras de seu jornal a criarem histórias sobre o cotidiano de pessoas comuns.




As tiras diárias mostravam os personagens em suas ponderações sobre os pequenos problemas e prazeres da vida. Nas páginas dominicais Frank King muitas vezes não conta histórias, mas mostra os personagens refletindo sobre diversos temas, como as mudanças de cores durante as estações do ano, as diversas formas de representação artística, etc. é justamente nessas edições dominicais, de página inteira, que King mostra todo seu talento, tanto no belíssimo uso das cores, como em algumas diagramações nas quais uma única vista panorâmica é dividida em vários quadrinhos. Outra característica de Gasoline Alley é que os personagens ficavam mais velhos no decorrer dos anos. Assim vemos Skeezix (a criança adotada por Walt) crescer, começar a falar e ganhar um irmão.





O livro Sundays with Walt and Skeezix apresenta uma seleção dessas páginas dominicais, nas cores originais e, pela primeira vez, no tamanho em que originalmente eram publicadas nos jornais (54 x 42 cm). Obra-prima dos quadrinhos, que tem influenciado vários autores contemporâneos, como Chris Ware, realmente merecia essa edição luxuosa, com capa dura e sobrecapa. Pena o preço ser tão salgado: $79,00 (na Amazon). Resta torcer para que algum dia seja lançada uma edição mais econômica.