terça-feira, 4 de janeiro de 2011

As melhores HQs publicadas em 2010 nos EUA – Alternativas e clássicas



(Originalmente postada no site ambrosia.com.br)

Nos EUA, autores de quadrinhos são cada vez mais respeitados como artistas e intelectuais. Este status ficou claro em 2010 quando ilustrações de Chris Ware e Robert Crumb, rejeitadas por importantes publicações norte-americanas, tiveram imensa repercussão no meio cultural. Ware zombou dos milionários em uma divertidíssima arte para a capa da revista de negócios Fortune, na qual os ricos dançam no topo de um edifício enquanto o resto da população sofre os efeitos da crise financeira. A capa de Crumb para a revista The New Yorker parece ter sido recusada apenas por mostrar um casamento homossexual. Crumb não divulgou sua ilustração, mas a de Ware apareceu em vários sites. Nos dois casos ficou claro que o autor de quadrinhos não é necessariamente um criador de desenhos decorativos. Muitas vezes ele tem uma visão do mundo aguçada a ponto de abalar os responsáveis por publicações sólidas e de renome.
Abaixo estão algumas das melhores HQs publicadas em 2010 nos EUA, incluindo obras de Chris Ware e Robert Crumb (sem ordem de preferência):

The Best American Comics 2010 - Vários autores - Neil Gaiman (editor) 
Gaiman, autor da cultuada série Sandman, selecionou algumas das melhores HQs norte-americanas publicadas entre Setembro de 2008 e Agosto de 2009. Genesis de Crumb, Asterios Polyp de Mazzucchelli e Scott Pilgrim vs. The Universe estão entre as obras mais conhecidas desta coletânea e foram publicadas no Brasil. As surpresas ficam por conta de histórias menos conhecidas, como Acme Novelty Library 19, de Chris Ware, e a sombria The Lagoon, de Lili Carré.

Love and Rockets New Stories n.3 - Gilbert Hernandez e Jaime Hernandez
Gilbert exagerou na dose de sexo e violência, mas Jaime criou uma de suas melhores HQs. Abuso infantil, traumas e relações familiares dilacerantes são mostrados em um arco de três histórias, nas quais o tom narrativo salta do cômico ao trágico em poucos quadrinhos.

Strange Tales - Vários autores
Os heróis da Marvel revistos por autores de quadrinhos independentes. Os destaques são as hilárias aventuras criadas por Peter Bagge para Homem-Aranha e Hulk. Paul Pope (Batman: Ano100), Jason (The Living and the Dead), Dash Shaw (Umbigo sem Fundo) e Tony Millionaire (Maakies) também contribuem com ótimos trabalhos.

Wilson - Daniel Clowes
Novela gráfica composta por setenta HQs de uma página que podem ser lidas separadamente, mas que juntas formam um retrato do personagem que dá nome à obra. Wilson é um sujeito arrogante, egoísta, solitário, que aborda desconhecidos com perguntas sobre suas vidas pessoais apenas para zombar das respostas. Clowes explora novos estilos narrativos e se consolida como um dos melhores autores de quadrinhos contemporâneos.

The Extraordinary Adventures of Adele Blanc-Sec (Vol. 1) - Jacques Tardi
O francês Tardi é um artista versátil, narrador cuidadoso de fatos históricos e imaginários. As linhas claras e leves de seus desenhos remetem ao estilo de outro francês, o cultuado Moebius.  Suas principais obras estão sendo relançadas nos EUA pela editora Fantagraphics.

Reedição primorosa das aventuras do Príncipe Valente, com as magníficas cores originais. Mais que qualquer lançamento individual, o que se destacou no mercado norte-americano de quadrinhos em 2010 foi a consolidação de um padrão rigoroso de qualidade gráfica. Este padrão é bem visível nas reedições de HQs clássicas e tem como item fundamental a reprodução fiel da arte original dos quadrinhos, inclusive as cores, mesmo que com algumas manchas e imperfeições. O respeito com as antigas narrativas gráficas não partiu das editoras, mas sim de uma nova geração de leitores cada vez mais exigentes e conscientes do valor cultural das HQs.

Thirteen Going on Eighteen - John Stanley
Melvin Monster 2 - John Stanley
O cartunista Seth, responsável pelo design das reedições, infelizmente optou por não incluir as capas originais. Mas estas publicações luxuosas são irresistíveis para quem conhece a importância do trabalho de John Stanley, autor mais conhecido por levar a personagem Luluzinha aos quadrinhos.

Um personagem extremamente complexo, exposto de modo impiedoso e contundente. A arte de Ware continua clara e geométrica, mas a técnica narrativa está mais ousada, explorando os limites da fragmentação dos quadrinhos e mudanças drásticas de estilo gráfico.

X´ed Out - Charles Burns
Nesta primeira parte da mais recente novela gráfica de Burns, um rapaz vaga entre delírios, lembranças e raros momentos de lucidez. Alguns leitores reclamaram que Burns não deu muita atenção ao roteiro. Vale ao menos pela alta qualidade gráfica e as referências às clássicas HQs do Tintin.

Acusados de incitarem a violência, os quadrinhos de horror foram praticamente banidos das bancas norte-americanas na segunda metade dos anos 1950. Esta coletânea é uma ótima introdução ao gênero, com reproduções de histórias e capas originais.

The Littlest Pirate King - Pierre Mac Orlan, David B.
Acostumados a conviver com monstros marinhos, pilhar navios e assassinar marinheiros, um grupo de assustadores piratas mortos-vivos tem sua rotina radicalmente transformada quando se vêem obrigados a cuidar de uma criança. David B., autor da HQ autobiográfica Epilético, usa sua arte bela e sombria para adaptar um divertido texto de Orlan.

Exemplo primoroso de jornalismo em quadrinhos. Foi lançado no Brasil com o título Notas sobre Gaza, pela editora Companhia de Letras.

2 comentários:

  1. Que interessante tudo! eu sempre quis ler quadrinhos, nunca encontro o tempo! Na rádio que eu ouço tem um programa sobre quadrinhos, eu escuto e fico imaginando ...

    ResponderExcluir
  2. É assim mesmo, Mariana, hoje temos acesso a muita coisa mas não temos tempo. Tenho vários livros que comprei e nunca tive tempo de ler! Qto aos quadrinhos, são como os filmes e os livros: a maioria é bem ruim, mas os poucos que são bons valem a pena.

    ResponderExcluir