A mais recente novela gráfica do Jim Woodring deve sair em breve, com enredo incompreensível e arte magnífica. As primeiras dez páginas do livro podem ser conferidas no site The Beat.
terça-feira, 3 de maio de 2011
domingo, 24 de abril de 2011
A reedição de Captain Easy, clássico das HQs de aventura
Wash Tubbs foi provavelmente a primeira história em quadrinhos de aventura publicada nos EUA, em 1924. Captain Easy apareceu como um personagem secundário de Wash Tubbs, em 1929, mas a partir de 1933 ganhou sua própria HQ, Captain Easy: Soldier of Fortune, publicada em jornais aos domingos, em página inteira e colorida. A editora Fantagraphics está relançando as aventuras de Captain Easy em edições luxuosas de capa dura, tamanho grande e com as cores originais.
Roy Crane foi o talentoso criador de Wash Tubbs e Captain Easy. Não foi o inventor dos quadrinhos de aventura – Zé Caipora, do artista ítalo-brasileiro Ângelo Agostini já era publicado em 1883! – mas foi muito influente para o desenvolvimento do gênero nos EUA. Crane criava histórias nas quais aventura, humor e romance apareciam na medida certa. As narrativas eram fluidas, simples e ingênuas, mais voltadas para o público infantil. Certamente eram tão divertidas quanto uma boa matinê de cinema.
Captain Easy é um personagem destemido, durão e cínico. Algumas vezes é capaz de “jogar sujo” para vencer um inimigo, mas certamente possui boa índole. Viaja por diversos países em busca de aventuras. Combate piratas, caça tesouros, conhece belas mulheres e descobre culturas exóticas.
Os desenhos de Crane são claros, simples, arredondados. Combinam perfeitamente com as cores primárias utilizadas na impressão dos jornais da época. Seus personagens eram desenhados de modo mais caricatural que realista, com traço solto e leve, sem muita preocupação com detalhes. Na diagramação, Crane soube explorar o espaço de página inteira das HQs de Captain Easy, alternando quadrinhos horizontais e verticais para conseguir um efeito mais dinâmico. O autor também usava os quadrinhos horizontais para mostrar belas imagens panorâmicas de lutas e perseguições. Um detalhe divertido da arte de Crane são os animais com olhos esbugalhados e expressão cômica que apareciam como figurantes em alguns desenhos.
Como costuma fazer em suas reedições de quadrinhos clássicos, a editora Fantagraphics realizou um ótimo trabalho. O design do volume é simples e elegante, com destaque para a capa feita de vários materiais, como tecido e papelão. Os quadrinhos foram escaneados de jornais antigos e as cores originais foram mantidas, preservando a aparência das primeiras edições. A coletânea é enriquecida por vários textos introdutórios, inclusive alguns parágrafos escritos por Charles Schulz (autor de Peanuts). No final do volume ainda há uma nota explicando o processo de colorização dos antigos quadrinhos de jornais, além de três paginas com artes originais de Crane. Algumas páginas do livro podem ser vistas no site da editora.
Título: Captain Easy – Vol.1 – 1933-1935
Autor: Roy Crane
Ano de Edição: 2010
Editora: Fantagraphics Books
144 páginas
domingo, 17 de abril de 2011
The Kinks!
The Kinks foi uma das melhores bandas de rock dos anos 60. Emboram não sejam muito conhecidos fora da Grã-Bretanha, criaram um punhado de canções fantásticas. Para quem se interessar, escrevi uma matéria sobre eles para o site Ambrosia.
terça-feira, 29 de março de 2011
Ilustração: Martin Scorsese e Leonardo Dicaprio
O diretor Scorsese e o ator Dicaprio trabalharam juntos em filmes como "Gangues de Nova York". Fiz esta ilustração para a revista Monet.
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Uma brilhante reedição de Príncipe Valente
Prince Valiant é um jovem príncipe medieval. Sua epopéia tem início em um reino pantanoso no norte da Europa. Entre uma aventura e outra, ele viaja para terras distantes, combate invasores hunos e saxões, e se torna cavaleiro do lendário Rei Arthur. Conhecido no Brasil como Príncipe Valente, ou simplesmente Val, o personagem foi criado por Harold Foster em 1937 para protagonizar histórias em quadrinhos publicadas em jornais. Logo se tornou um clássico e teve sua saga transformada em filmes e animações. Prince Valiant – Vol.2 foi lançado nos EUA em 2010, e reúne histórias originalmente publicadas entre 1939 e 1940.
Antes de começar a fazer quadrinhos, Foster trabalhou como ilustrador e estudou na Academia de Artes de Chicago. Sua formação acadêmica, somada à experiência no ramo de ilustrações, contribuiu para que seus desenhos adquirissem um estilo sóbrio e detalhista. Seus traços finos possuem uma precisão fotográfica e seu bom gosto para combinação de cores compensava a limitada palheta disponível para os quadrinhos de jornais da época.
As histórias reunidas em Prince Valiant – Vol.2 mostram uma arte madura. As imagens de batalha são as que mais chamam a atenção, pelo dinamismo e riqueza de detalhes. O autor fazia uma exaustiva pesquisa iconográfica para que as armas e roupas de seus personagens fossem verossimilhantes. Alguns quadros de Prince Valiant também se destacam pelo modo cuidadoso e complexo como o autor retrata a paisagem, dando a certas cenas uma acentuada sensação de profundidade, incomum nas histórias em quadrinhos.
No quadro abaixo fica evidente por que a arte de Foster é tão cultuada. Um grupo de guerreiros hunos está tentando invadir um castelo defendido por Val e mais alguns soldados. A batalha é minuciosamente retratada, desde a grande variedade de armas até as técnicas de combate. Nos rostos dos invasores vemos expressões de ódio e medo, enquanto Val e seus companheiros parecem calmos, confiantes – alguns até sorriem. Mas o detalhe de uma flecha prestes a atingir a perna de um desses soldados, no canto inferior da imagem, é um aviso discreto de que a batalha não será tão fácil.
A opção por não usar balões de texto contribui para criar um ritmo de leitura mais lento – adequado para que o leitor possa observar os detalhes de cada quadrinho. É um estilo narrativo que exige certo esforço de quem lê.
Os personagens criados por Foster não são muito originais – príncipes heróicos, bruxas, malandros simpáticos, reis cruéis – mas os enredos são bem construídos, com muitas reviravoltas e suspense. Aventuras e batalhas preenchem a maior parte das narrativas, mas são os episódios de humor que parecem ter resistido melhor ao tempo, como a passagem em que Val executa um arriscado plano apenas para roubar as roupas de um inimigo. Para temperar as histórias, o autor também usa um pouco de drama e romance.
As HQs do Príncipe Valente são constantemente reeditadas no mundo todo, mas esta coleção iniciada em 2009, pela editora Fantagraphics, é especial pela preocupação em restaurar a obra de Foster com o máximo de fidelidade. A arte original foi respeitada e cuidadosamente reconstituída a partir das provas de impressão originais, além de outras fontes de alta qualidade. A publicação em cores, com capa dura e papel opaco é luxuosa na medida exata. É uma edição definitiva e uma homenagem justa à arte de Harold Foster.
Título: Prince Valiant – Vol.2 – 1939-1940
Autor: Harold Foster
Ano de Edição: 2010
Editora: Fantagraphics Books
112 páginas
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Os piratas zumbis de David B.
The Littlest Pirate King é uma história em quadrinhos estranha e mórbida. Narra as peripécias de um grupo de piratas mortos-vivos que, como punição por seus crimes, foram condenados a vagar eternamente pelos mares em um velho navio. Após séculos de tediosas viagens náuticas, os bandidos lançam sua nau contra recifes e monstros marinhos, na esperança de encontrarem uma morte definitiva. Mas esta lhes é repetidamente negada por uma força maior, possivelmente divina. Como se todo esse tormento não bastasse, os piratas ainda se vêem obrigados a cuidar de uma criança náufraga.
A história é de autoria do escritor francês Pierre Mac Orlan e foi originalmente publicada nos anos 1920, na forma de um conto. A adaptação para os quadrinhos foi feita por outro francês, David B., pseudônimo de Pierre-François Beauchard, mais conhecido como autor da HQ autobiográfica Epiléptico (publicada no Brasil).
The Littlest Pirate King foi lançado nos EUA no final de 2010, pela editora Fantagraphics, com capa dura, páginas coloridas e preço meio salgado. Com menos de 50 páginas, proporciona uma leitura fácil e rápida. O enredo pode ser visto como uma reflexão sobre o destino - os piratas relutam em aceitar a existência a que foram condenados e confrontam a ordem divina. Mas a narrativa nunca é óbvia, e pode ter várias interpretações. A criança encontrada pelos piratas instigará o leitor a pensar na convivência entre seres aparentemente incompatíveis, e a última metade do livro pode ser uma metáfora do fim da infância, mas esta não é uma história com moral ou mensagem clara. Quem está acostumado com quadrinhos mais tradicionais poderá estranhar alguns trechos oníricos e o final abrupto e aberto.
Os belos desenhos de David B., feitos com traços grossos e tremidos, são elegantemente expressivos. Sombras espessas cobrem grande parte das páginas e realçam o tom mórbido da narrativa. As figuras desenhadas pelo artista são simples, mas o modo como são dispostas em cada quadro é cuidadoso e inventivo. David B. consegue colocar um grande número de personagens em um quadrinho de modo que todos pareçam necessários, no lugar certo e com uma expressão facial individual. Perspectivas incomuns são utilizadas para acentuar a dramaticidade de algumas cenas. As cores foram muito bem escolhidas e tornam as ilustrações mais divertidas.
Após criar HQs inspiradas por sonhos – publicadas na década de 1990, inéditas no Brasil – e histórias familiares, David B. se saiu muito bem com esta adaptação literária. Não é e nem pretende ser uma obra profunda e impactante como Epiléptico, mas mostra um artista maduro e talentoso, explorando a versatilidade de sua narrativa.
Título: The Littlest Pirate King
Autores: Pierre Mac Orlan e David B
Editora: Fantagraphics Books
Ano de Edição: 2010
48 páginas
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
As melhores HQs publicadas em 2010 nos EUA – Alternativas e clássicas
(Originalmente postada no site ambrosia.com.br)
Nos EUA, autores de quadrinhos são cada vez mais respeitados como artistas e intelectuais. Este status ficou claro em 2010 quando ilustrações de Chris Ware e Robert Crumb, rejeitadas por importantes publicações norte-americanas, tiveram imensa repercussão no meio cultural. Ware zombou dos milionários em uma divertidíssima arte para a capa da revista de negócios Fortune, na qual os ricos dançam no topo de um edifício enquanto o resto da população sofre os efeitos da crise financeira. A capa de Crumb para a revista The New Yorker parece ter sido recusada apenas por mostrar um casamento homossexual. Crumb não divulgou sua ilustração, mas a de Ware apareceu em vários sites. Nos dois casos ficou claro que o autor de quadrinhos não é necessariamente um criador de desenhos decorativos. Muitas vezes ele tem uma visão do mundo aguçada a ponto de abalar os responsáveis por publicações sólidas e de renome.
Abaixo estão algumas das melhores HQs publicadas em 2010 nos EUA, incluindo obras de Chris Ware e Robert Crumb (sem ordem de preferência):
The Best American Comics 2010 - Vários autores - Neil Gaiman (editor)
Gaiman, autor da cultuada série Sandman, selecionou algumas das melhores HQs norte-americanas publicadas entre Setembro de 2008 e Agosto de 2009. Genesis de Crumb, Asterios Polyp de Mazzucchelli e Scott Pilgrim vs. The Universe estão entre as obras mais conhecidas desta coletânea e foram publicadas no Brasil. As surpresas ficam por conta de histórias menos conhecidas, como Acme Novelty Library 19, de Chris Ware, e a sombria The Lagoon, de Lili Carré.
Love and Rockets New Stories n.3 - Gilbert Hernandez e Jaime Hernandez
Gilbert exagerou na dose de sexo e violência, mas Jaime criou uma de suas melhores HQs. Abuso infantil, traumas e relações familiares dilacerantes são mostrados em um arco de três histórias, nas quais o tom narrativo salta do cômico ao trágico em poucos quadrinhos.
Strange Tales - Vários autores
Os heróis da Marvel revistos por autores de quadrinhos independentes. Os destaques são as hilárias aventuras criadas por Peter Bagge para Homem-Aranha e Hulk. Paul Pope (Batman: Ano100), Jason (The Living and the Dead), Dash Shaw (Umbigo sem Fundo) e Tony Millionaire (Maakies) também contribuem com ótimos trabalhos.
Wilson - Daniel Clowes
Novela gráfica composta por setenta HQs de uma página que podem ser lidas separadamente, mas que juntas formam um retrato do personagem que dá nome à obra. Wilson é um sujeito arrogante, egoísta, solitário, que aborda desconhecidos com perguntas sobre suas vidas pessoais apenas para zombar das respostas. Clowes explora novos estilos narrativos e se consolida como um dos melhores autores de quadrinhos contemporâneos.
It Was the War of the Trenches - Jaques Tardi
The Extraordinary Adventures of Adele Blanc-Sec (Vol. 1) - Jacques Tardi
O francês Tardi é um artista versátil, narrador cuidadoso de fatos históricos e imaginários. As linhas claras e leves de seus desenhos remetem ao estilo de outro francês, o cultuado Moebius. Suas principais obras estão sendo relançadas nos EUA pela editora Fantagraphics.
Prince Valiant: 1939-1940 (Vol. 2) - Hal Foster
Reedição primorosa das aventuras do Príncipe Valente, com as magníficas cores originais. Mais que qualquer lançamento individual, o que se destacou no mercado norte-americano de quadrinhos em 2010 foi a consolidação de um padrão rigoroso de qualidade gráfica. Este padrão é bem visível nas reedições de HQs clássicas e tem como item fundamental a reprodução fiel da arte original dos quadrinhos, inclusive as cores, mesmo que com algumas manchas e imperfeições. O respeito com as antigas narrativas gráficas não partiu das editoras, mas sim de uma nova geração de leitores cada vez mais exigentes e conscientes do valor cultural das HQs.
Thirteen Going on Eighteen - John Stanley
Melvin Monster 2 - John Stanley
Acme Novelty Library 20 - Crhis Ware
Um personagem extremamente complexo, exposto de modo impiedoso e contundente. A arte de Ware continua clara e geométrica, mas a técnica narrativa está mais ousada, explorando os limites da fragmentação dos quadrinhos e mudanças drásticas de estilo gráfico.
X´ed Out - Charles Burns
Nesta primeira parte da mais recente novela gráfica de Burns, um rapaz vaga entre delírios, lembranças e raros momentos de lucidez. Alguns leitores reclamaram que Burns não deu muita atenção ao roteiro. Vale ao menos pela alta qualidade gráfica e as referências às clássicas HQs do Tintin.
The Horror! The Horror! Comic Books the Government Didn´t Want You to Read - Vários autores - Jim Trombetta (editor)
Acusados de incitarem a violência, os quadrinhos de horror foram praticamente banidos das bancas norte-americanas na segunda metade dos anos 1950. Esta coletânea é uma ótima introdução ao gênero, com reproduções de histórias e capas originais.
The Littlest Pirate King - Pierre Mac Orlan, David B.
Acostumados a conviver com monstros marinhos, pilhar navios e assassinar marinheiros, um grupo de assustadores piratas mortos-vivos tem sua rotina radicalmente transformada quando se vêem obrigados a cuidar de uma criança. David B., autor da HQ autobiográfica Epilético, usa sua arte bela e sombria para adaptar um divertido texto de Orlan.
Footnotes in Gaza : A Graphic Novel - Joe Sacco
Exemplo primoroso de jornalismo em quadrinhos. Foi lançado no Brasil com o título Notas sobre Gaza, pela editora Companhia de Letras.
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