segunda-feira, 28 de junho de 2010

Poor Sailor, ótima HQ inspirada em conto de Guy de Maupassant


Título: Poor Sailor
Autor: Sammy Harkham
Editora: Gingko Press
Ano de Edição: 2005
120 páginas

Além de editar a prestigiada coletânea de quadrinhos Kramers Ergot, o norte-americano Sammy Harkham também é um talentoso autor de HQs. Poor Sailor, sua adaptação para os quadrinhos de um conto do escritor francês Guy de Maupassant, foi originalmente publicada na Kramers Ergot em 2003, e posteriormente lançada no formato de um pequeno livro de capa dura, em 2005.


Poor Sailor pode ser lida em poucos minutos, mas é uma leitura arrebatadora, um exemplo primoroso de como se adaptar uma obra literária para os quadrinhos. Thomas é o pobre marinheiro do título, que decide abandonar sua casa e sua esposa para viajar pelo mundo trabalhando em um navio. Harkham conta a estória com pouquíssimos diálogos. O que os personagens pensam e sentem é apenas sugerido nos desenhos, sem o uso de balões e recordatórios. Cada página contém só um quadrinho, o que permite que se admire a arte clara e simples, mas muito expressiva.

Apesar de ser um dos autores mais promissores da nova geração, Sammy Harkham tem poucos trabalhos publicados. Além de Poor Sailor, algumas obras curtas do autor podem ser vistas em coletâneas e em sua série de quadrinhos Crickets.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Heróis da Marvel revistos por craques dos quadrinhos independentes


Título: Strange Tales
Editora: Marvel Books
Ano de Edição: 2010
192 páginas

Strange Tales pode agradar tanto aos leitores que estão cansados da mesmice das atuais HQs de super-heróis como aqueles cuja praia é a dos quadrinhos alternativos. O livro reúne 27 autores de quadrinhos independentes colocando os principais personagens da Marvel em histórias cômicas e absurdas.

A maioria dos autores teve de uma a quatro páginas para desenvolver sua história, mas quase todos conseguiram aproveitar bem o pouco espaço disponível. Apenas Peter Bagge teve mais espaço, e em cerca de 40 páginas dedicadas ao Homem-Aranha e Hulk criou duas histórias hilárias, dignas de entrar em qualquer seleção de melhores HQs desses personagens. Autor da ótima série Hate, Bagge mostra o que teria acontecido se Peter Parker, inspirado pelo livro Quem é John Galt? da escritora Ayn Rand, tivesse se tornado individualista e egoísta. As reviravoltas do enredo são surpreendentes e o autor faz da história uma engraçada reflexão sobre o caráter humano. O Hulk de Bagge dispara algumas das frases mais cômicas do livro e tem de enfrentar um dos maiores desafios de sua vida: uma namorada que não larga do seu pé!

Tony Millionaire é mais conhecido como autor das tiras Maakies, mas suas melhores obras são as HQs da série Sock Monkey e a graphic novel Billy Hazelnuts. Em Strange Tales podemos ver sua arte magnífica ilustrando uma aventura surreal do Homem de Ferro.

Jhonen Vasquez é o criador do desenho animado Invasor Zim. Sua HQ presente nesta coletânea segue o estilo de suas animações, com personagens infantis e muito humor negro.

Entre outros artistas, também estão nesta coletânea Paul Pope (Batman: Ano100), Stan Sakai (Usagi Yogimbo), Jason (The Living and the Dead) e Dash Shaw (Umbigo sem Fundo).

Em 2005 a Opera Graphica lançou no Brasil uma coletânea semelhante, mas com os heróis da Editora DC, chamada Bizarro Comics.

Wilson, de Daniel Clowes


Título: Wilson
Autor: Daniel Clowes
Editora: Drawn and Quarterly
Ano de Edição: 2010
80 páginas

Daniel Clowes, um dos nomes mais importantes dos quadrinhos contemporâneos, autor de Ghost World, David Boring e Caricature, está dividindo a opinião de críticos e leitores norte-americanos com sua última criação. Seu novo livro é composto por setenta HQs de uma página que podem ser lidas separadamente, mas que juntas formam um retrato do personagem que dá nome à obra. Wilson é um sujeito arrogante, egoísta, solitário, que aborda desconhecidos com perguntas sobre suas vidas pessoais apenas para zombar das respostas.

Muitos reclamaram da pequena quantidade de páginas e do enredo simples e repetitivo, mas essas características foram planejadas pelo autor, que conscientemente frustra as expectativas dos leitores acostumados às narrativas tradicionais. Momentos que renderiam as cenas mais carregadas de emoção, como o encontro de Wilson com a filha ou sua prisão, simplesmente não são mostrados, ficam implícitos ou são apenas sugeridos. O personagem é apresentado de modo frio e distante, às vezes detestável, às vezes patético, mas ao mesmo tempo é impossível não se identificar um pouco com ele.
Wilson certamente decepcionará leitores desavisados e confundirá os críticos. Pode não ser a melhor obra de Clowes, mas é uma leitura instigante e um passo adiante nas experiências narrativas do autor.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

A Primeira Guerra Mundial, no traço de Jaques Tardi


Título: It Was the War of the Trenches
Autor: Jaques Tardi
Editora: Fantagraphics Books
Ano de Edição: 2010
120 páginas

A HQ It Was the War of the Trenches, do francês Jaques Tardi, teve um longo período de gestação: foi originalmente publicada em capítulos, na França, entre os anos de 1982 e 1993. É uma das mais belas e terríveis obras anti bélicas da história dos quadrinhos. Com base em fotos, documentos da época e diversos livros sobre o assunto, os desenhos de Tardi estão mais realistas que de costume, mas o autor não se preocupa em descrever estratégias militares e panoramas políticos. O foco desta obra é o sofrimento humano: a vida nas trincheiras lamacentas cercadas de cadáveres, o horror de soldados que eram alvejados por seus próprios exércitos para que não recuassem, a angústia por terem de lutar em uma guerra que não lhes fazia sentido, e verem seus amigos sendo mortos quase diariamente.
O livro está dividido em narrativas curtas, independentes umas das outras. Os personagens são todos ficcionais, embora o interesse de Tardi por este tema tenha sido despertado por um episódio vivido por seu avô, que lutou na Primeira Guerra Mundial.
Mesmo não tendo o impacto de obras como Maus de Art Spiegelman, ou das HQs jornalísticas de Joe Sacco, Tardi acerta ao se concentrar nas tragédias pessoais dos soldados, criando um conjunto de narrativas tocantes.It Was the War of the Trenches está sendo lançada pela primeira vez em sua forma completa em língua inglesa. Algumas páginas da HQ podem ser baixadas no site da editora Fantagraphics.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Coletânea de HQs infantis clássicas, escolhidas por Art Spiegelman e Françoise Mouly

Título: The Toon Treasury of Classic Children´s Comics
Editora: Abrams ComicArts
Editores: Art Spiegelman e Françoise Mouly
352 páginas

The Toon Treasury of Classic Children´s Comics reúne HQs infantis publicadas entre 1939 e 1965, cuidadosamente escolhidas pelo cartunista Art Spiegelman e sua esposa Françoise Mouly, editora de arte da revista New Yorker. Obras-primas do gênero aparecem no livro ao lado de algumas criações menos expressivas, mas a qualidade da maioria das histórias é excelente.

No prefácio, os editores afirmam que algumas HQs estão entre o que de melhor foi feito no campo da literatura infantil do século 20. Lendo as histórias deste livro, fica difícil discordar. Autores como Carl Barks, John Stanley, Jules Feiffer, Walt Kelly e Harvey Kurtzman levaram os quadrinhos além do simples entretenimento, enriquecendo suas narrativas com sutis comentários sobre a sociedade e as relações humanas. As obras destes autores permanecem atuais e cativantes, seja para o público infantil ou adulto. Entre as histórias reunidas em The Toon Treasury, algumas merecem atenção especial:

Em Tralla La, de Carl Barks, Tio Patinhas, com uma simples tampinha de refrigerante, desestabiliza uma sociedade economicamente perfeita, na qual não existe dinheiro. Barks se destacava dos outros artistas da Disney não só pelo traço preciso, mas principalmente pelos ótimos roteiros que combinavam humor, aventura e reflexão.

Five Little Babies, com roteiro de John Stanley, é um divertido épico sobre sadismo infantil. Stanley não foi o criador de Little Lulu (Luluzinha), mas acrescentou profundidade psicológica à personagem.

Walt Kelly adaptou diversos contos de fadas para os quadrinhos, mas Pogo foi certamente o ápice criativo de sua carreira, com ritmo ágil e humor comparável ao dos melhores desenhos da Disney (empresa para a qual Kelly trabalhou, fazendo animações), além de altas doses de sátira social.


Harvey Kurtzman e Basil Wolverton já faziam, desde os anos 40, o tipo de humor ácido e insano que posteriormente seria popularizado por revistas como a MAD. Em momentos hilários, Kurtzman invertia os papéis e colocava seus personagens rindo dos leitores.

Em todas as 67 HQs do livro foram mantidas as cores originais. Várias capas dos gibis originais também foram reproduzidas (as desenhadas por Walt Kelly são primorosas) e uma breve biografia de cada autor foi incluída.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Fantagraphics publica clássico dos quadrinhos franceses


Título: You Are There
Autores: Jean-Claude Forest e Jacques Tardi
Editora: Fantagraphics Books
Ano de Edição: 2009
192 páginas

A editora Fantagraphics está lançando no mercado norte-americano algumas das principais obras do quadrinista francês Jacques Tardi, cuja carreira profissional começou em fins dos anos 60, na revista Pilote. Artista versátil e prolífico, Tardi, além de desenhar suas próprias histórias, adaptou romances e enredos de diversos outros autores.

You Are There foi originalmente publicado na França em capítulos, a partir de 1978. O roteiro é de Jean-Claude Forest, criador da personagem Barbarella (mais conhecida por sua versão cinematográfica, na pele de Jane Fonda). Na trama kafkiana, There, o personagem principal, é proibido pela lei de pisar nas terras que foram de sua família, sendo-lhe permitido somente andar sobre os muros que dividem os lotes dos atuais proprietários.

Mesmo sendo infernizado pelos inescrupulosos proprietários, There não abandona a antiga propriedade de seus antepassados. Vive em uma minúscula casa construída sobre um muro, enquanto, com a ajuda de seus advogados, tenta reaver as terras. Um estranho marinheiro e uma garota ninfomaníaca estão entre as poucas pessoas que tentam interagir com o personagem principal.

Apesar de um começo meio lento a história cresce nos desfechos absurdos dos últimos capítulos, e o roteiro de Forest funciona como uma crítica bem-humorada ao exagerado apego das pessoas às coisas materiais. Jacques Tardi desenha de modo realista objetos e cenários, enquanto retrata os personagens de modo caricatural e divertido. Esta combinação de caricatura e realismo, apesar de não ser nada inovadora, é executada com muito talento por Tardi.

Algumas páginas do livro podem ser baixadas através do site da Fantagraphics.

terça-feira, 20 de abril de 2010

A.L.I.E.E.E.N.

Título: A.L.I.E.E.E.N.
Autor: Lewis Trondheim
Editora: First Second
Ano de Edição: 2006
96 páginas

Lewis Trondheim é um dos mais prolíficos e premiados quadrinistas franceses. Desde fins dos anos 80 vem publicando HQs dos mais diferentes gêneros: autobiográficas, infantis, de aventura e ficção científica, entre outras. Uma de suas HQs mais conhecidas, La Mouche, ganhou uma versão em desenho animado nos anos 90.


A.L.I.E.E.E.N. é uma de suas melhores e mais inventivas HQs. No prefácio Trondheim brinca com o leitor, negando ser o autor da HQ. A.L.I.E.E.E.N. seria um gibi alienígena que o quadrinista francês teria encontrado durante um passeio com a família por um bosque. Os diálogos da história são todos em uma língua incompreensível, supostamente alienígena, claro. Mas não é necessário entender os diálogos para compreender a história e se divertir com as desventuras dos estranhos personagens. A arte bastante colorida e quase infantil contrasta com a violência, humor negro e escatologia presentes em quase todas as páginas.